segunda-feira, 21 de junho de 2010

3 Dias En Galicia

Dia 1:

A viagem foi feita quase sem paragens e num ritmo acima do normal, havia pressa.
A saida do Porto fora por volta das 18h e o programa marcava Lcd Soundsystem às 22h30. Com a hora que se perde na fronteira, tinhamos que estar as 21h30 junto ao palco para ver James Murphy e cia. E lá conseguimos!
E ainda bem! Numa setlist um pouco mais curta que o normal devido as contingencias do festival (os concertos tinham todos uma hora, excepto o de Laurent Garnier, que durou hora e meia, as actuações de dj oscilavam entre uma hora e no maximo duas) os Lcd Soundsystem mostraram que são no momento o projecto mais aliciante a trabalhar nas fronteiras entre rock e electronica dancavel. Numa banda que incluia alem dos ja habituais Nancy Whang (membro dos Juan Maclean, tambem da Dfa Records de Murphy) e Pat Mahoney (o senhor que costuma passar discos com James e com o qual divide a responsabilidade do Fabric que ambos gravaram), havia tambem espaço para por exemplo Tyler Pope, membro dos !!!. Uma galeria de notaveis portanto e tambem uma maquina muito bem oleada. Começaram com 'Us Vs. Them' logo rasgadinha. Passaram por 'Drunk Girls' e 'I Can Change' do ultimo album, mas guardaram o melhor para o fim, com a sequencia 'Movement','Yeah'(sempre fenomenal) e 'All My Friends' a levar ao rubro o publico presente, que enchia uma das salas (Sonar Village) , a unica com actividade nesse 1º dia. É o meu terceiro concerto de Lcd, um por album, um por cidade (Porto- Lisboa-Coruna) mas em todos o mesmo denominador de excelencia de banda que ficara para a historia. Murphy diz que este e o ultimo album do projecto, por isso se ainda nao viram, nao percam, vale mesmo a pena. Depois veio um dj espanhol, que nao sendo mau soube obviamente a pouco depois desta avalanche de boa musica. E assim fomos cedinho para o hotel( boa escolha!) que os dias que se seguiam seriam bem mais longos e preenchidos.

Dia 2:

Começou cedo o segundo dia do festival. Eram 19h30 e la estavamos instalados junto ao palco para ver a prestação dos Fuck Buttons, autores do excelente 'Tarot Sport' de 2009. Para eles vai o premio de actuação mais barulhenta do festival, num set continuo , sempre em crescendo. Foi pena ser tão cedo.
Apos umas horas semi-mortas, em que se vagueia pelo recinto do festival, que neste dia tinha ja mais uma sala (Sonar Complex, uma sala com cadeiras, onde decorream algumas actuações interessantes), vimos parte de Matthew Herbert, que pessoalmente me desiludiu com um som demasiado rugoso para o habitual, mas sem resultados interessantes. Mais interessante foi antes Fake Robotique, um projecto espanhol.
A grande expectativa da noite ia para a prestação em formato live, acompanhado de musicos, do produtor e dj consagrado mundialmente, uma lenda da electronica, Laurent Garnier.
Apesar de ja ter ultrapssado e bem os 40 anos Laurent não sofre de abrandamento, bem pelo contrario. Tambem se mantem atento as novas tendencias, como mostram as incursões por terrenos dubstep ou drum and bass que aconteceram durante a prestação. Uma actuação energica que teve pontos altos nos classicos 'Crispy Bacon'e 'Man With The Red Face', este a terminar. Um senhor e ponto final. Referencia ainda aos poucos minutos que vimos do live act de Labrador+P.M.A., projecto portugues que actou no Complex e com boa aceitação de publico.

Dia 3:

Bastante desgastados pela devastação da noite anterior la nos arrastamos para ver a prestação de Flying Lotus, que se iniciava, com a pontualidade que marcou o festival as 20h locais. Flying Lotus deu uma boa prestação, para fazer dançar mais a mente que o corpo. No final chamou um amigo que não entendi o nome para uma sessão, no espirito 'free jazz', palavras do proprio. Nesse segmento ate trechos de 'Idioteque' dos Radiohead se ouviram. Dificil de ouvir, não é para todos, mas é muito bom. Nesta altura iriam actuar os Octa Push, dupla tuga dos terrenos dubstep, mas o cansaço das pernas e o apelo do Carrefour vizinho do recinto do festival, com bebidas a preço mais convidativo (esperemos que os preços festivaleiros espanhois não cheguem a Portugal, 3 euros uma cerveja e 5 uma bebida branca não é nada agradavel) fizeram nos deslocar ate ao exterior para um descanso merecido.
Voltamos por volta das 22h30, naquela que seria a primeira decisão dificil de fazer para o nosso grupo de 4 festivaleiros. No Sonar Club, palco que se estreava neste dia iriam actuar os Air, no Sonar Village os Delorean. Os primeiros a começar foram os Air e por isso dei-lhes alguns minutos, que não me convençeram. Os ultimos trabalhos da dupla francesa não me entusiasmam e la fui ver Delorean, que para alem de ser o nome do mitico carro do Doc de 'Regresso ao Futuro' é tambem o nome deste creativo projecto espanhol que se move junto das coordenadas de uns Animal Collective, versão mais solarenga e electronica. Deram um belo concerto. Os outros festivaleiros voltaram para junto dos Air, menos convencidos do que eu, relatando que o final do concerto destes teria sido mais engraçado, percorrendo o projecto os seus temas mais conhecidos.
Havia agora novo intervalo ate às 0h30 em termos de projectos esperados...uma ronda pelas salas e conhecemos um projecto galego de hip-hop com influencias de elctronica e ate blues, com letras que pareciam de caracter leve e divertido...eram os Fluzo. Foram divertidos e fizeram passar o tempo ate aos 2 Many Djs, que rebentaram como de costume. Que o show era de qualidade e eficaz ja se sabia, a novidade a observar eram as projecções que acontecem no palco e que acompanham as musicas que a dupla belga vai propondo à pista de dança. Numa tela no centro, vão aparecendo as capas de discos que a dupla vai pondo, sendo que nestas capas os protagonistas mexem-se e não é pouco. Animações semi-rudimentares mas que resultam em pleno. Ate Bethoveen por la passou...
Infelizmente não pude verificar ate ao fim esta prestação pois havia Hot Chip ás 01h30 para ver no Sonar Village. E que Hot Chip foram estes? Um show efeciente, muito dancavel, focado no seu curto alinhamento os temas de maior sucesso, intercalados por algumas musicas do ultimo 'One Life Stand', ja de 2010. Terminou com 'Ready For The Floor', em grande, mas mostrando que apesar da boa prestação, não é Lcd Soundsystem quem quer, e não tera sido a toa que o melhor album deste grupo ingles teve produção da equipa Dfa, ou seja, James Murphy...Ainda assim gostei bastante de ver, estiveram no top das actuações quanto a mim.
Havia ainda Booka Shade no Sonar Club, em formato live, com bateria fisica e tudo. Começaram logo com 'Darkko' talvez o seu tema mais conhecido e conquistaram a pista de imediato. Assim continuaram num bom ritmo, que apenas o fraquejar das pernas nos obrigou a abandonar...Tinha terminado para nos o Sonar Coruña em ano de Xacobeo.
Pena neste cartaz não haver, entre outros do irmão alargado de Barcelona, a prestação live de Plastikman, que teria sido a chave de ouro para este excelente festival de electronica. Ainda assim um saldo tremendamente positivo, ainda mais para um bilhete de 3 dias que custava 54 euros, aproximadamente aquilo que se paga por apenas uma noite num Alive ou Super Bock e ate menos do que uma noite no festival de rir ou, se preferirem, rock in rio.

Uma nota final para a alargada cobertura mediatica da morte de Jose Saramago que os media espanhois fizeram. Um sinal de respeito por este grande escritor e esquerdista, que nem sempre foi bem tratado em Portugal. Que o seja agora, que bem fez por o merecer, lutando pela igualdade e direitos e revoltando-se contra as principais forças de repressão ou opressão que actuam na nossa peninsula iberica, vulgo igreja catolica.
Respect.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Sempre Novos (mas já antigos...)

Robert smith não teve nunca a fama de ser um rapaz feliz. Quando chegou aos 30 anos, idade que para ele significava o inicio do declinio creativo de todas as bandas, Smith, mais depremido que nunca quis fazer um album sombrio, pontuado apenas por alguns momentos de maior claridade.

Esse album veio a chamar-se 'Disintegration' e foi lançado originalmente em 89, sendo agora re-editado numa versão deluxe que inclui algumas raridades e pela primeira vez tambem o album ao vivo 'Entreat' na sua versão completa.

'Entreat' documenta uma prestação da banda em Londres, em 1990 e é composto apenas por 8 faixas do album 'Disintegration'. Esta edição junta-lhe as 4 faixas que faltavam, entre elas os dois maiores hits do album 'Lullaby' e 'Lovesong'. Por não conter estas duas musicas,que são as duas mais 'claras' do disco, 'Entreat' é ainda mais sombrio que 'Disintegration'. 'Entreat' foi tambem o segundo cd que entrou para a minha colecção e desde esse meu 6º ano de escolaridade, tem sido, bem como 'Disintegration' bastas vezes revisitado pelos meus ouvidos.

Faixas como 'Pictures of You', 'Fascination Street', 'Closedown', 'Prayers for Rain', 'Last Dance' ou 'Untitled' foram durante os anos da grande depressão (vulgo, crises adolescentes...) uma grande companhia e um ombro amigo. Hoje, de forma diferente, ainda o são. O melhor trabalho dos Cure, ainda que a curta distancia de 'Pornography', o album que de acordo com o proprio Smith serviu de mote à atmosfera que domina o disco. Um dos albuns e uma das bandas da minha vida, isto se não ligarmos a nada do que gravaram depois de 1992...

Mas mesmo que agora Smith se lançasse em colaborações com Tony Carreira ou Shakira isso não apagava a genialidade deste album, bem como das suas letras. Para colocar junto a outros artistas de cortar os pulsos, como Joy Division, Nick Cave ou mais recentemente Interpol.



Tambem reeditado por estes dias foi 'Exile on Main Street' dos Rolling Stones, que penso, dispensam apresentações. Originalmente editado em '72 não contem nenhum dos grandes exitos dos Stones como 'Start Me Up', 'Satisfaction' ou 'Simpathy for the Devil', nem sequer um 'Angie' ou um 'Street Fighting Man'.

Mas, 'Exile on Main street' foi gravado num espirito de total liberdade criativa de todos os membros da banda(talvez potenciada pelo uso abusivo de drogas que todos faziam no momento) e é um tratado de rock, soul, blues(principalmente estes) e um pouco de tudo o resto que se fazia na altura, transformando os ingleses numa especie de banda negra do sul dos Estados Unidos, Mississipi style! Apesar de não ter sido recibo com muito entusiasmo à altura do lançamento, cresceu em reconhecimento ate se tornar num dos mais respeitados trabalhos do colectivo. Para mim esta no topo, formando o triangulo magico com 'Sticky Fingers' e 'Beggars Banquet'.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Moderat

Enquanto metade da cidade se dirigia para Serralves 'pelo ambiente de festa e convivio', para ver e ouvir (sera?) actuações de sabe la deus quem, alguns
irredutiveis gauleses dispostos a pagar a simpatica quantia de 7,5 euros(com uma bebida incluida...) conseguiram encher a sala 2 da Casa da Musica, no
passado Sabado, dia 5 ( sim, é verdade, dois eventos culturais de media/grande dimensão com apoios estatais a decorrer no mesmo dia, numa cidade como o
Porto...que grande metrople devemos ser...) para observar de perto um dos mais entusiasmantes projectos de cariz electronico do momento, os Moderat,
combinação entre a dupla Modeselektor e Apparat. Vinham para apresentar o seu album de estreia e unico até ao momento, lançado em 2009 pela berlinense
Bpitch Control de Ellen Allien. Tal como no album, execelente, mostraram as fusões entre varios estilos de musicas, abertos a todo o tipo de influencias,
desde os habituais techno, house e electro ate ao dub, ambiental, rock (Apparat usou varias vezes uma guitarra durante a performance) ou hip-hop (a
excelente 'Beats Way Sick' marcou a fase final do espectaculo) e ainda por cima sendo muito expressivos e afaveis para com a plateia e servidos por uma
excelente componente visual(era evidente a cumplicidade entre musicos e o vj colaborador habitual) proporcionaram um dos melhores live acts de electronica
que presenciei deixando por exemplo Lindstrom, que actuou ja este ano no mesmo espaço a milhas de distancia. O publico presente reagiu muito bem ao show(que apenas pecou pela curta duração, mesmo assim ultrapassando o previsto de uma hora em cerca de 20 minutos),
demonstrando um pouco habitual(em clubbings) conhecimento do projecto...se calhar os habituais penduras da Casa estavam uns quilometros mais abaixo na zona
da Boavista...